Tópico sugerido pelo nosso amigo papa fox, conhecido em círculos como "Mr".


A Beretta Xtrema2 é uma espingarda semiautomática em 12ga que opera por ação de gases sobre pistão, comportando uma série de sistemas de compensação de recuo e amortecimento de vibração, os quais eliminam em conjunto algo em torno de setenta por cento da experiência do “coice”.

O gatilho da arma tem um curso excepcionalmente curto do qual foi pretensamente retirado todo o arrasto para garantir maior precisão intrínseca. Um sistema de travamento desse gatilho é disponibilizado como acessório e pode ser operado com a mão esquerda.

A coronha e a extremidade dianteira teriam sido otimizadas para compensar o tamanho alongado da caixa de culatra e estima-se que a arma tenha melhor ergonomia que qualquer outra de sua classe. Há na coronha um ajuste para o tiro com casaco e sem casaco, conforme as condições climáticas.

O receptor em alumínio anodizado leva um tratamento anticorrosão chamado comercialmente de “AQUA technology” pela Beretta, que colabora para tornar a Xtrema2 uma arma potencialmente cara. Várias peças são inteiramente construídas em material resistente à corrosão, de modo que a espingarda estaria apta a resistir até mesmo a contato cotidiano com água salgada.

A Xtrema2, lançada em 2006, é o membro mais novo da premiada família de cartucheiras semiautomáticas A391 da Beretta, iniciada em 2002, com a A391 Xtrema. Estas armas foram pensadas inicialmente para caçar pássaros de pouca massa em voo na Inglaterra, o que demanda cartuchos de pressão mais elevada que os “standard”, como o 12ga Magnum. Entrementes, as vantagens da redução drástica do recuo em espingardas calibre 12 saltaram tanto às vistas desde então, que o sistema está ganhando justo destaque na apreciação dos atiradores por seu potencial emprego na defesa pessoal, função que a Xtrema2, considerada uma “faz-tudo”, está destinada a desempenhar.


Foto da arma.



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Cano.

Um dos sistemas que a Beretta incorporou à espingarda Xtrema2 a fim de reduzir o recuo e a vibração dos disparos está na estrutura do cano.

Trata-se de um cano "overbored", ou sobrevazado, i.e., com um segmento de paredes internas paralelas que se seguem a outro segmento de paredes convergentes. Quando os projéteis passam da região cônica do cano para a região cilíndrica, ocorre uma queda na pressão interna do sistema que traz três consequências: (1) redução de recuo, (2) alguma perda no poder de perfuração ("penetrating power") dos projéteis e (3) alguma perda, que pode ser considerada desprezível, no alcance efetivo dos disparos.

Abaixo, vê-se uma figura representando a seção longitudinal de um cano de espingarda da fabricante Fabarm, também italiana, cujas armas, me parece, podem ter servido de inspiração à equipe da Beretta para a construção de alguns sistemas presentes na Xtrema2:


A estrutura interna desse cano, mais complexo que o da Xtrema2, compreende um cone de forçamento à base; uma região longa "overbored", cilíndrica e lisa, em que ocorre queda de pressão interna; um segundo segmento cônico; e, por fim, um choke cilíndrico.

O cano da Xtrema2 é forjado a frio em aço especial.




Culatra.

Este vídeo abaixo mostra distintamente, através de uma animação, como funciona um dos inovadores sistema de compensação de recuo incorporados na arma.

Trata-se de um amortecedor hidráulico bem semelhante aos que se vêem em automóveis. Esse amortecedor, alocado na culatra da arma, funciona como mola de recuperação auxiliar do ferrolho, embora deva haver certamente uma outra mola recuperadora principal, e elimina uma grande parte do recuo e da vibração do sistema. Estupenda idéia.






Coronha.


Este outro vídeo mostra como funcionam os sistemas de redução de recuo postados na coronha da Xtrema2, com molas e outros dois amortecedores hidráulicos. Tal sistema, isoladamente, seria responsável por uma redução da ordem de sessenta por cento no "coice" da espingarda, o que é possível, pois as molas devem gerar um vetor de sentido oposto ao do recuo mesmo que o atirador não apoie a arma no ombro.






Sistema de operação.

Este último vídeo do Youtube, também postado na conta da Beretta, e que vale a "saga" inteira, mostra todo o sistema de operação da Xtrema2 em funcionamento como que "radiografado". Aos 0:25 minutos, vê-se a entrada no pistão das emanações oriundas do evento de gases e da câmara de combustão. A mola recuperadora do pistão também gera um vetor de sentido oposto ao do recuo, trabalhando contra este, de modo que se inclui com justiça entre os sistemas que cooperam para a redução do "coice" da espingarda. Por esta altura é tempo de dizer que se trata realmente de uma linda arma e de uma criatura mecânica deveras cativante.




Porém, se atirar com essa arma é muito fácil, levar a cabo a sua manutenção é um pouco mais trabalhoso e complexo do que cuidar de uma espingarda semiautomática que opere por recuo e inércia. Operação a gás importa acúmulo de resíduos que devem ser limpos ocasionalmente.

Ainda no vídeo acima, entre os 0:50 e os 0:53 minutos de exibição, vê-se como engatilhar manualmente a Xtrema2 por meio de uma alavanca lateral alocada sobre a janela de alimentação e como desengatilhá-la, fazendo uso da tecla do sistema desarmador ("decocker").

A cabeça do ferrolho leva um trancamento giratório de dois ressaltos.