As espingardas Benelli M3, calibre 12, são baseadas num sistema de operação patenteado pela empresa e desenvolvido nos anos oitenta para ser empregado primeiro na Benelli M1.

Esse sistema aproveita a massa do transportador do ferrolho, que tende para a inércia, para fazer ciclar o sistema de alimentação e engatilhar a arma quando operada em modo semiauto. O trancamento da cabeça do ferrolho é rotativo e leva dois ressaltos. Duas molas cooperam no movimento: a mola inercial, que age sobre o transportador do ferrolho, retirando-o da inércia, e a mola de recuo, postada na coronha. O sistema é simples, incluindo poucas peças, robusto e de fácil manutenção, o que rendeu ao projeto, que eu saiba até o momento, algum emprego policial em países europeus e adoção por algumas unidades do exército francês.

Para tiros com munição de carga reduzida, não-letal, por exemplo, pode-se alimentar as câmaras dos modelos M3 manualmente ("pump action") graças a outro sistema patenteado pela Benelli.
Sistema de seleção de modos de operação das Benelli M3
(clique sobre a imagem para vê-la ampliada):



A geração seguinte de espingardas semiautomáticas em 12 ga fabricadas pela Benelli, M4 Super 90 e M1012 JSCS, não incorpora mais o sistema de ação descrito, ciclando com ação de gases sobre pistão.


Em termos mais explicativos, o sistema de operação das Benelli M3 funciona da seguinte forma:

1 - com o disparo, a arma recua, mas o transportador do ferrolho tende a ficar inerte no começo do movimento;

2 - a massa do transportador, então, comprime a mola de inércia postada entre o transportador e a cabeça do ferrolho;

3 - comprimida, a mola impele a cabeça do ferrolho para frente e esta gira e avança ligeiramente, destrancando-se do cano;

4 - agora o conjunto está destrancado e a mola de inércia ainda mais tencionada para retirar o transportador da inércia: tem início, assim, o movimento do transportador do ferrolho em direção à culatra. Este movimento corresponde exatamente à manobra manual sobre as telhas que não será necessária aqui: a cápsula vazia é automaticamente ejetada e o percussor engatilhado;

5 - quando o conjunto retorna à posição inicial, impelido pela mola de recuo postada na coronha da arma, a mola de inércia é novamente comprimida, fazendo com que a cabeça do ferrolho avance ligeiramente, girando e trancando-se de novo ao cano. Está encerrado o primeiro ciclo.

Entretanto, esse sistema de ação já existia na Benelli M1 e o que torna a M3 diferente da M1 é tão-só o sistema que se vê na imagem acima: o seletor de modos de ação, que permite ao atirador optar entre a ação semiautomática ou a manual.

Como funciona aquele sistema?

Bem, na foto à esquerda, vê-se a frente da arma com a mola inercial livre para executar o trabalho que tira o transportador do ferrolho da inércia, nos termos descritos acima.

Na foto à direita, a mola aparece comprimida e o transportador trancado à cabeça do ferrolho por fora por um fecho. Com a mola nessa posição, o transportador do ferrolho não tenderá para a inércia, recuando junto com a arma, e será necessária, portanto, a operação manual para ejetar o cartucho vazio e engatilhar a espingarda.



Minha crítica do sistema das espingardas Benelli M1/M3


Gostaria de poder fazer esta crítica com base em algum relato de operadores das armas em questão, mas, a falta disso, vou-me basear em especulação pura.

O sistema é cativante e limpo, executa um movimento complexo, com um trancamento rotativo inclusive, utilizando para isso apenas o recuo da arma e a inércia do transportador.

É possível que o sistema de ação em questão seja até bem confiável quando a arma for operada em posição horizontal em relação ao solo. Entretanto, antes mesmo de testá-la, analisando apenas a sua descrição, fica difícil de acreditar que essa ação possa funcionar a contento com a arma inclinada para disparar de cima para baixo ou de baixo para cima. Num tiro de cima para baixo, a gravidade irá tornar o transportador possivelmente pesado demais para o trabalho e bem assim num tiro ao prato, por exemplo, inclinado para cima. E esse problema tende a se agravar quando a arma não esteja perfeitamente limpa. É claro que uma regulagem para tiro em ângulo inclinado poderia ser tentada, mas isso implicaria em possíveis problemas para o tiro horizontal em relação ao solo.

Embora o exército francês tenha adotado a M3T, o sistema não está passado em julgado e a opção dos norte-americanos pela M4, de operação a gás, que demanda limpeza constante, indica possíveis problemas com a ação por recuo e inércia das Benelli anteriores.